Há pouco mais de um ano atrás, recebi a muito aguardada resposta da Red Ladder Theatre Company a dizer que, caso ainda estivesse interessada, teriam todo o gosto em receber-me como estagiária no âmbito do programa Erasmus+. Na resposta explicaram-me, de um modo geral, quais os projectos em que iria estar envolvida e quais as minhas responsabilidades. Tudo apontava para que esta fosse uma oportunidade incrível. (E foi!) E assim, dei por mim em Leeds, Inglaterra, em meados de Abril de 2017.
Choque inicial à parte, a mudança não podia ter corrido melhor. Antes de chegar, a companhia encontrou alojamento para mim em na casa de um casal muito simpático e quando finalmente cheguei, o Chris Lloyd, o produtor, recebeu-me na estação de camionetas de Leeds que é mesmo ao lado do escritório da companhia.
Algumas semanas depois, começaram os ensaios para a primeira produção que acompanhei: uma versão reduzida para digressão da produção deles do ano anterior, intitulada The Damned United - uma peça sobre os tortuosos quarenta e quatro dias em que Brian Clough foi treinador do Leeds United, um clube de futebol que desprezou publicamente durante anos até aceitar o cargo.
Os Red Ladder levaram esta peça ao Edinburgh Fringe Festival. Por isso, tive a oportunidade de visitar Edimburgo durante quatro dias e assistir a dezasseis espectáculos incríveis com o meu passe de membro da companhia, que ostentava orgulhosamente!
Mal regressei a Leeds, começaram os trabalhos de preparação do projecto principal do meu estágio. Este consistia numa produção site-specific criada para um armazém situado nos arredores do centro de Leeds. A peça, intitulada The Shed Crew e baseada no livro Urban Grimshaw and the Shed Crew, de Bernard Hare, submerge o público nas histórias reais das vidas de um grupo de jovens adolescentes que cresceram em Leeds em condições de extrema pobreza e falta de cuidados.
Em conjunto com a equipa de cenógrafas Ali Allen e Charlie Stanley, ajudei a construir este mundo.
Ao longo do mês de Agosto, libertámos o espaço no armazém para se poder construir a estrutura em andaimes do cenário, acondicionámos todo o espaço para que fosse seguro circular livremente, e preparámos as restantes divisões do armazém para criar um bar, espaços de exposição e utilitários. Foi trabalho pesado, mas gratificante.
No início de Setembro o armazém ganhou vida com o começo dos ensaios! A acção espalhou-se por toda a parte e rapidamente este espaço enorme deixou de parecer tão grande.
Meras semanas mais tarde, já me encontrava a usar máquina de fumo, a movimentar figurinos de um lado para o outro entre cenas e a preparar adereços durante a estreia do espectáculo.
Desde o início, este processo foi desafiante e extremamente proveitoso. Foi fantástico conhecer e trabalhar com tanta gente simpática e dedicada. Criou-se entre o grupo um ambiente muito positivo de partilha e compreensão, enquanto lidávamos com os assuntos delicados abordados na peça. Penso que tudo isto transpareceu para o público.
No final, despedimo-nos com pequenos gestos de afabilidade, postais e um jantar para todos.
Desde o início, a minha experiência com os Red Ladder foi excelente. Ainda me custa acreditar na sorte que tive em descobrir esta companhia tão animada, interessante e com uma história tão rica! Celebram 50 anos de existência no próximo ano, e pelo ritmo a que trabalham hão-de celebrar os cem! Foi difícil despedir-me de todas estas pessoas fantásticas. Voltei para casa com memórias insubstituíveis, novos conhecimentos, uma nova compreensão do mundo do espectáculo e tantos presentes e lembranças que quase nem cabiam nas minhas malas!
Fico grata a todas as pessoas que conheci durante a minha estadia em Leeds e que me fizeram sentir sempre bem-vinda. Deixo um agradecimento muito especial a Rod Dixon, Chris Lloyd, Jenny Sullivan, Sasha Hawkes, Chris O'Connor e Amanda Tricket - a equipa Red Ladder.
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